sexta-feira, 5 de junho de 2020

"Como o lockdown na Índia matou mais de 300 pessoas que não tinham coronavírus (e os sonhos de Jaikrishna Kumar)"

https://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/como-o-lockdown-na-índia-matou-mais-de-300-pessoas-que-não-tinham-coronavírus/ar-BB155D2y?ocid=spartan-dhp-feeds]


"Como o lockdown na Índia matou mais de 300 pessoas que não tinham coronavírus
(e os sonhos de Jaikrishna Kumar)"

Antes de ler o conteúdo da matéria eu já sabia que a morte dessas pessoas tinham como causa a fome, nem todas elas morreram de fome, outras morreram de exaustão, outras por sofrerem acidente na estrada.
(Doeu muito, abracei minha mãe por suas costas e chorei, choro contido porque sei que ela perguntaria o motivo e eu teria preguiça de explicar, porque sei que ela não iria compreender)
Difícil pra mim compreender racionalmente tudo o que está acontecendo nesse mundo, porque é mundial todo esse rolê errado. As pessoas que morreram na Índia, são citadas na matéria como responsáveis pela economia de seu país, são trabalhadores da construção civil, pessoas que cozinhavam, serviam e/ou entregavam comida, trabalhadoras da limpeza, entregadoras de jornal (uso artigo feminino porque quero).
Todas essas pessoas que morreram estavam retornando para sua cidade natal de onde saíram para tentar uma vida melhor na capital, realidade muitas pessoas ainda no séc XXI. Elas morreram por egoísmo, negligencia, falta de bom senso, falta de humanidade. Umas morreram de fome, porque não havia agua fresca e dinheiro para comprar alimentação durante a viagem de trem até sua cidade natal, que era longa, outras morreram pois decidiram viajar com bicicletas quando foram descansar das horas exaustivas escolhiam as linhas férreas para adormecer e foram atropeladas pelo trem, ainda outras por acidentes na estrada quando atingidas por outro veiculo em alta velocidade. Todas essas mortes poderiam ser evitadas, todas elas. Se houvesse o mínimo de respeito a vida e a dignidade humana. O governo disponibilizou aviões para buscar quem estava fora do país, mas não soube cuidar do retorno para casa daqueles que estavam dentro do próprio país. Não foram capazes de reconhecer a situação de miséria de muitas dessas pessoas e foi incapaz de ceder viagens de trem gratuitas, alimentação e água fresca.
O presidente da India Ram Nath Kovind, vindo da casta dos dalit (grupo formado por trabalhadores braçais, considerados pelos escritos bramânicos, sobretudo o Manava Dharmashastra, como "intocáveis" e impuros), em seu primeiro ato publico declarou que: “A Constituição nos deu dois direitos (o direito à educação e o direito a votar). Os dalits sofrem em toda a nação porquê não puderam apreciar a importância dos dois“. Sim, ele defende a meritocracia, em um país das dimensões da Índia. Sim, ele que é um dalit defende a meritocracia.
Agora te proponho um simples exercício de reflexão, leia a matéria que originou esse texto e me diga, de quem mais é a responsabilidade por todas essas 300 pessoas?
Fez o exercício? Vamos lá. Além do presidente da Índia, quem mais é responsável pela morte dessas 300 pessoas, a morte de Miguel, João Pedro, George Floyd, Marielle Franco, quem sabe do seu irmão, seu pai, seu tio, seu namorado, seu avô, sua mãe, a sua morte diária (sua panema/seu banzo) me diz, quem é?
Uma vez voltando do litoral pra capital de SP, observei a transmutação da paisagem. Estradas que ligam o litoral a capital, cercada de natureza intocada, vi cachoeiras enormes, de agua abundante caindo de enorme pedreiras. Um verde de encher os olhos e o coração, de acalmar, de fazer respirar com prazer, de dar paz, mas que aos poucos iam sendo substituídas por paisagens de arvores e fabricas, arvores e enormes plantações de monoculturas, arvores e casas simples, arvores e barracos em uma comunidade, depois arvore, carros e várias comunidades com seus diversos barracos, e ao fim diversas comunidades com vários barracos e uma outra arvore e pensei "é isso que eles (invasores, violentadores, chamados de colonizadores) chamam de progresso, de desenvolvimento?".
Aos 33 anos creio que passo por um dos momentos mais tristes da minha existência ao saber que o que se chama de "progresso" custa a vida, a dignidade, a alegria de outra pessoa. Isso deveria ser chamar "ato violento, retrocesso, insanidade" mas progresso? Isso está longe de ser um progresso.
Desde que os descolonizadores chegaram aqui em nosso continente (e ouso incluir todos os países vizinhos ao meu - fronteiriços ou não), em África, na Índia, Cuba, Porto Rico, Costa Rica e muitas outras nações, o que eles realizaram foi um processo de roubo, genocídio, violência, destruição. Se hoje os países europeus são ricos é porque roubaram nossas arvores, nossas pedras, nossos alimentos, nossa alegria, nossas vidas.
Levaram a vida de milhares e milhares de indígenas, através de doenças que traziam ou através da panema, que simplesmente fazia nossa avó ou avô deitar em sua rede e esperar a morte, simplesmente por não suportar a dor de toda aquela destruição, e não admitir nem ver razão em toda aquela violência.
Levaram a vida, a saúde, a alegria de nossas avós e avôs quando os lançavam em navios que abarcariam em terras de Pindorama para escraviza-las (o), nesse processo separaram reinos, comunidades, mães e filhos, amigas (o), companheiras (o).
Tiraram a alegria de viver de vários povos e nações por onde passaram, deixando como marca de sua passagem a dor. A dor de quem não era capaz de compreender tamanha violência e ganancia. Mesma dor que eu sinto agora (e quase todos os dias) e que eu sei que você sente também.
Porque a branquitute simplesmente não cala a boca e escuta a mulher negra, a mulher indígena, a mulher cubana, indiana, colombiana, porto riquenha? Porque a branquitute insiste em chamar de progresso esse retrocesso que mata, que violenta, que faz faltar o pão, a água fresca, a dignidade?
Porque a branquitude ainda age como um adulto mimado, que chora (mata) e faz birra (escraviza) simplesmente porque deseja manter (e aumentar) seu enriquecimento financeiro, a sua "alta classe", seus privilégios e mordomias, mesmo que isso custe a dignidade, a vida de milhares e milhares de pessoas.
Quando a branquitude vai entender que chega, que acabou, esse sistema que ela conduz a séculos é mesquinho, é genocida, é insustentável aos olhos de um mundo saudável, realmente rico e potente?
Branquitude, quando você vai deixar de olhar o próprio umbigo e entender que uma criança de 5 anos não consegue descer 5 andares sozinha dentro de um elevador? Que uma casa dentro de uma comunidade é um lar, onde pessoas vivem, onde crianças brincam e que entrar dando tiros de fuzil vai tirar a vida dessas crianças? Quando vai entender que um homem não pode ter seu direito de respirar (RESPIRAR) por conta de uma nota de 20 dólares considerada falsa?
Branquitude, acorda. Acorda desse seu sonho de progresso, porque para a maioria das pessoas que caminham por essa Terra o seu sonho é a pior dos pesadelos diariamente transformado em realidade.
"Nós, os pobres, geralmente precisamos escolher a melhor opção, entre várias péssimas", diz Ajay."

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